Na era em que a liderança está substituindo a gestão, e o aprendizado substituindo a instrução, o êxito corporativo das Organizações, sejam elas privadas ou públicas, agora está intimamente ligado à maneira pela qual os gestores pensam, agem e interagem cotidianamente. Desse modo, o conceito de liderança vem evoluindo em conjunto com o dinamismo do mercado de trabalho e das pessoas que compõem as equipes.

As Organizações que querem fazer parte de um cenário de crescimento e evolução nos tempos atuais precisam estar atentas às constantes mudanças, no chamado contexto VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo; do inglês: Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity), precisando se reinventar a todo momento para não ficarem para trás. Mas o que está acontecendo?

Estamos lidando com mudanças exponenciais em Organizações formadas por gestores formais. De inúmeras burocracias e hierarquias, as Organizações estão mudando para uma cultura de empresas e instituições públicas conectadas, formadas por um mix de gerações, que funcionam em redes, e cada vez mais passarão a ser lideradas por uma liderança empreendedora.

O advento das novas tecnologias possibilitou aos profissionais se tornarem muito menos dependentes das hierarquias centrais, que antes eram as grandes geradoras de informações. Isso ocorre na nossa vida em geral e tem repercussões direta onde trabalhamos.

Liderança requer resiliência

Liderar, nesses novos ambientes organizacionais, cada vez mais impulsionados pelas novas gerações que chegam, requer muita resiliência. Mas requer também autoconhecimento, flexibilidade, fácil comunicação, multidisciplinariedade e coragem para superar desafios. O Líder (ou a Líder) precisa estar aberto para ser um patrocinador e um facilitador de mudanças. Portanto, DESaprender e DESadaptar são competências-chaves para o melhor exercício da liderança.

"Liderança requer resiliência, autoconhecimento, flexibilidade, fácil comunicação, multidisciplinariedade 
e coragem para superar desafios." Jo Lima

Você já refletiu sobre sua própria jornada? Como está o exercício da sua liderança?

Neste artigo, vou compartilhar com vocês minhas percepções acerca do tema Liderar. Também vou falar sobre os desafios que encontrei para compreender a liderança na minha vida, não só no ambiente de trabalho, como também em outras dimensões que compõem o nosso dia a dia, pensando nas competências que denomino, essenciais para o melhor exercício da nossa liderança.

Para que você entenda melhor minha visão do que seja liderar, vamos pensar juntos sobre o conceito de gestão e liderança. E vamos também questionar nossas próprias práticas.

Perfil do Líder

"Gestão e liderança são conceitos distintos: ninguém vira líder ao assumir
um cargo de gestão." Jo Lima

No início da minha carreira como gestora, eu tinha a crença de que gestão e liderança se confundiam. Assim, tinha a convicção de que, ao assumir um cargo de gestão, passaria a ser uma líder. Ledo engano.

Só para ilustrar bem o que estou dizendo, sempre tive, como premissa básica, o comprometimento com meu trabalho e com a empresa que me dava a oportunidade. Desse modo, sempre dou máxima importância aos meus clientes. Mesmo porque tudo o que tenho é oriundo dos meus estudos e trabalhos, frutos de dedicação. Nada foi conquistado com facilidade.

Porém, quando recebi o primeiro convite para assumir um cargo de gestão, além de não ter sido treinada para a evolução do cargo que eu ocuparia, não me foi sequer falado o que deveria refinar das minhas competências para passar da fase de colega para gestora.

Infelizmente, cometi muitos erros ao longo dos primeiros meses da minha gestão, porque pressupus que as pessoas que trabalhavam na minha equipe deveriam ter o mesmo senso de entrega, comprometimento e urgência que tenho.  Muitas dores causei e muitas dores senti, por desconhecer a singularidade das pessoas. A minha gestão era totalmente centralizadora, e passou-se bom tempo até me dar conta de quem estava errada era eu e não minha equipe. Assim, por mais que me dedicasse, eu não me bastava; os grandes feitos de fato acontecem no coletivo. Afinal, é em grupo que as grandes conquistas se realizam.

E à medida que o tempo foi passando e eu fui ampliando meus horizontes no âmbito da gestão e liderança, através de estudos e prática diária, me dei conta de que liderança e gestão são conceitos distintos.

Liderança e Gestão

Hoje, tenho plena consciência de que liderança não é um cargo e sim uma postura de vida. Nós não precisamos estar num cargo de gestão para exercitarmos nossa liderança.

 "Liderança não é um cargo. Liderança é uma postura de vida." Jo Lima

Então o que é gestão e o que é liderança? Qual a diferença entre elas? No meu entendimento, a diferença entre gestão e liderança é que gestão é o que fazemos e liderança é o que podemos ter. Isto significa dizer que, ao longo da nossa carreira, poderemos vivenciar várias gestões, mas provavelmente teremos poucos líderes em nossa trajetória profissional. E isso é tão verdade que podemos perceber, nacionalmente, o quanto faltam lideranças em nosso país, seja no âmbito público ou nas próprias empresas privadas. O mundo carece de líderes positivos, engajados, ousados, que despertem nos outros o desejo genuíno de seguir seus bons exemplos.

E mesmo que você não esteja em cargo de gestão, é importantíssimo aperfeiçoar sua liderança, porque acredito que o principal desafio que temos na vida é sermos líderes de nós mesmos. E se você está em cargo de gestão, será ainda mais relevante desenvolver a competência de liderar, especialmente se quiser ser um exemplo a ser seguido. Mesmo que você já tenha uma visão própria acerca do tema liderança e acredite nela, sugiro que amplie seus conhecimentos e ressignifique suas crenças, porque convicções limitadoras nos impedem de alcançar alta performance naquilo que fazemos. Também reforço, na minha percepção, que o exercício da liderança é muito grandioso e importante, uma vez que transcende o nosso espaço de trabalho. Onde quer que você vá, a liderança se fará necessária.

Somos preparados para liderar nós mesmos?

Sempre parto do pressuposto de que liderança deve começar em nós, mas dentro da normalidade não fomos preparados para tal. É curioso notar que somos treinados para dirigir um carro, praticarmos determinado esporte, usarmos bem o computador... Entretanto, poucas são as instruções recebidas para aprender a manejar nossas emoções, que muitas vezes nos controlam e afetam sensivelmente o exercício da nossa liderança.

Quantas vezes vou a Organizações em cuja alta gestão trabalha uma pessoa tecnicamente qualificada, mas do ponto de vista emocional está longe de ser alguém que se conheça e saiba lidar com suas emoções; muito menos com as emoções alheias.

E isso acontece, porque a ciência, a educação e a tecnologia nos preparam para conhecermos o mundo externo, não para conhecermos o território do nosso ser. Quando não nos conhecemos, sem dúvida teremos dificuldade de entendermos os outros, suas motivações, seus valores e desafios. Via internet, muitas pessoas falam com o mundo, mas é no mínimo inusitado que essas mesmas pessoas possam nunca ter falado consigo mesmas.

"A liderança deve começar em nós mesmos." Jo Lima

Também considero paradoxal a facilidade com que a tecnologia da internet nos possibilita acessar, em tempo real, as imagens de um país de qualquer lugar do mundo, com informações detalhadas. Mas não temos preparo para conhecermos o espaço em que nascem a ansiedade, a timidez, o medo, a coragem, os desapontamentos, o mau humor, nossas angústias, nossos sonhos e o encantamento pela vida. E para liderar e expandirmos nossa compreensão da vida, o autoconhecimento é fundamental e decisivo, porque somente assim conseguiremos nos tornar atores principais da nossa própria história. Por isso, entendo que precisamos, em primeiro lugar, ser líder de nós mesmos, para depois conseguirmos liderar uma equipe ou uma organização.

Liderança exige autoconhecimento

Ao nos conhecermos, desenvolvemos a sensibilidade para compreendermos melhor os que estão em nossa equipe. Conhecendo nossas fraquezas, potencialidades, paixões e talentos, passamos a julgar nossos liderados com menos severidade, considerando-os profissionais em formação, assim como nós mesmos. O autoconhecimento nos oportuniza e potencializa nossa capacidade de compreensão sobre quem somos e sobre quem lideramos. Vejo como ponto de partida para uma visão aguçada, conseguirmos estimular o potencial dos integrantes da nossa equipe, e com isso conseguirmos maximizar os talentos que trabalham conosco e os resultados da nossa Organização. É o que sempre destaco nos cursos e palestras em que trabalho o tema Liderança.

Comece pelo autoconhecimento; não deixe represado o seu potencial de liderar.

Se anos atrás vigorava a prática da liderança através do comando e controle, nos tempos atuais só conseguiremos melhores resultados se, ao liderarmos, respeitarmos a singularidade de cada integrante da nossa equipe, mesmo que se trabalhe em uma Organização com hierarquia rígida. Até porque a humanização das relações se faz necessária, independente de estarmos trabalhando num espaço informal ou extremamente solene. Também devemos ter em mente que precisamos oferecer à nossa equipe um tratamento interpessoal alicerçado nos pontos fortes de cada integrante.

Lembremos que o foco no erro não desenvolve a autoestima das pessoas. Para desenvolvermos uma equipe de alta performance, necessariamente precisamos de pessoas motivadas e mobilizadas. E, principalmente, que tenham a mente aberta e sejam receptivas a novos desafios.

Equipes de alto desempenho

É importante salientar que se você busca liderar uma equipe de alto desempenho, deve ter plena consciência de que cabe a você a responsabilidade do desenvolvimento dos profissionais que a integram. Não delegue aos outros o compromisso que é exclusivo seu. Mas é importante deixarmos claro que sempre precisaremos de ajuda, até porque ninguém é detentor de todos os saberes, e o próprio exercício da sua liderança no dia a dia vai mostrando sinais dos pontos de melhorias, das necessidades para continuar aprimorando os potenciais da sua equipe.

Saliento, por oportuno, que não existe uma forma melhor de liderar uma equipe, até porque o exercício da liderança dar-se-á de maneira situacional. Ou seja: haverá momentos em que você exercerá uma liderança democrática e momentos em que exercitará uma liderança autocrática. Mas  haverá outros em que será necessário agir de maneira agregadora ou, até mesmo, coercitiva. O que precisamos é adaptar a nossa liderança ao contexto que vivenciarmos com a equipe.

"Equipe de alto desempenho: cabe a você a responsabilidade do desenvolvimento
dos profissionais que a integram." Jo Lima

Toda equipe necessita de uma liderança, e, às vezes, de várias lideranças. Percebo quando trabalho em empresas privadas e instituições públicas, que o mercado corporativo e o mundo carecem de Lideranças Humanizadas, que motivem as pessoas, que saibam desafiar suas equipes e encorajar positivamente seus liderados. Até porque o grande desafio é que cada Líder desenvolva novas lideranças, não só para o seu espaço de trabalho, mas para a vida.

No meu entendimento, liderar é antes de tudo um ato de educar. E a essência da liderança está no exemplo.

Cuide com muito zelo dos seus exemplos, porque a sua equipe mimetiza aquilo que você faz, diz e muitas vezes pensa. Sim, liderança é uma prática que exige autoconhecimento.

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Jo Lima

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