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Quem disse que precisamos ser fortes o tempo todo?

Faço esta pergunta para provocar em você uma reflexão acerca da vulnerabilidade, porque em regra expressar fragilidade ainda é visto no nosso país como um ato de fraqueza.


Fui criada por uma mulher que não teve outra alternativa na vida a não ser demonstrar força o tempo inteiro, porque o seu contexto de vida não lhe deu a chance de se permitir ser frágil. Na minha infância, raramente vi a minha mãe chorar ou demonstrar alguma fragilidade porque para uma mulher com 6 filhos e separada do marido, não restava outra alternativa a não ser enfrentar com todas as suas forças as adversidades da sua vida e foi com esse modelo de agir e entendimento de vida que cresci e me desenvolvi profissionalmente.    

O que muita gente desconhece é que a nossa força interior também é forjada através dos reveses que a vida nos apresenta ao longo do tempo. A nossa fragilidade também precisa ser vivenciada e compreendida, não como uma fraqueza, mas como um espaço de evolução contínua de muito autoconhecimento e fortalecimento emocional e isso eu só aprendi ao longo do tempo.

Mesmo sendo uma estudiosa apaixonada pelo tema resiliência, sinto que nem sempre podemos ser fortes o tempo todo e mais, nem precisamos agir sob a égide de uma fórmula pronta que preconiza que você deve ser forte em todas as situações. No meu entendimento, romantizar a dor e desconhecer que cada pessoa tem a sua singularidade e modo de entender seus desafios é no mínimo injusto.

Independente disso, entendo que devemos agir com coragem e empenho diariamente para podermos desfrutar ao máximo da vida em todas as suas dimensões, mas isso não implica deixar de reconhecer nossas fragilidades. É preciso termos em mente que por mais fortes que sejamos, também sentimos medo, choramos e temos nossas inseguranças e não há qualquer demérito nisso.

Percebo através do meu trabalho, atendendo empresas em todo o Brasil, que há uma cultura que permeia o nosso país onde não devemos expor as nossas fragilidades, porque elas podem ser usadas contra nós. E se você é mulher, a sua força deverá ser triplicada porque todo e qualquer gesto que demonstre minimamente sua fragilidade pode ser entendida como mi mi mi, fraqueza e até mesmo incompetência.

Você pode notar isso acontecendo nas mais diferentes áreas de atuação, seja no âmbito familiar, trabalho, relação amorosa, amizades. As pessoas não se permitem falar das suas fragilidades por receio do julgamento das outras pessoas. É sempre o que o outro vai pensar sobre nós que impede a verdade sobre a nossa fragilidade ser proferida.

E no ambiente organizacional, esta percepção é ainda mais potencializada, você dizer que desconhece sobre algum assunto já pode ser motivo de receber severas críticas e prejulgamentos.

Se a gente olhar com a devida atenção podemos ver que em outras áreas acontece do mesmo jeito. Vamos lembrar agora das Olimpíadas de Tóquio, quando a ginasta Simone Arianne Biles, a Ninja dos tempos atuais na ginástica profissional, especialista na ginástica artística, vencedora de vinte e cinco medalhas em campeonatos mundiais, sendo dezenove delas de ouro. A Simone é a ginasta mais condecorada na história dos E.U.A., em mundiais e quando chegou às Olimpíadas, a supercampeã era vista por todos os comentaristas esportivos da área da ginástica artística, como a atleta que trazia a certeza de vencer todas as suas provas. Mas ao chegar na competição, a Simone demonstrou a sua fragilidade, apresentou ao mundo uma questão que pouco podemos expressar: que antes de ser uma atleta extraordinária, ela é um ser humano que tem suas fragilidades e que precisa de cuidados emocionais.

Quem disse que precisamos ser resilientes o tempo todo? Posso assegurar pela minha experiência, desenvolvendo pessoas em meus cursos e palestras sobre o tema resiliência e por meus estudos com este tema apaixonante, que há dias em que precisamos recuar, assentar os sentimentos, muitas vezes chorar e retomar nossas forças.

Quem nunca passou por situações de incertezas, apreensões e medo em alguma área da sua jornada de vida?

A nossa trajetória de vida nos propicia tantas encruzilhadas, que pretender ter certeza de tudo que se quer é no mínimo infantil, porque a nossa existência não é binária, com tudo podendo ser visto como: ou certo ou errado. Há muitas nuances e são justamente estas nuances que nos qualificam, que traz brilho e superação para a nossa vida.  

Penso que a humanização das relações interpessoais exige de nós um novo olhar mais acolhedor e empático conosco e para com as outras pessoas.

Precisamos entender de uma vez por todas que quando assumimos alguma fragilidade, podemos a partir daí desenvolvermos competências e estabelecermos relacionamentos mais verdadeiros, cooperativos e colaborativos.

Os conceitos de vulnerabilidade e fragilidade precisam ser integrados ao nosso dia a dia não como um rótulo negativo, associados a fraqueza e insegurança, mas com um novo olhar onde o ser humano é entendido em toda a sua complexidade, com forças e sombras e que precisam se ajudar, se conhecerem e se fortalecerem no coletivo.

Agindo assim, aumentaremos de forma significativa a colaboração, a cocriação, o engajamento, a cooperação, a compaixão e a satisfação de todos, estabelecendo uma sociedade mais justa e ciente de que não há nenhum demérito em assumirmos que existe inúmeras questões que não temos domínio, circunstâncias que não sabemos conduzir e competências que precisamos desenvolver.

Bora aprender a aprender! 

*Por Jo Lima
Publicado em 14 de outubro de 2021

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 *Jo Lima é coach, palestrante e mentora em desenvolvimento humano e capacita profissionais para alta performance e gestão de equipes.
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